sábado, 24 de setembro de 2011

No ritmo do Rock

Se há algo que inevitavelmente prende a minha atenção, isto é a música. Melhor dizendo, algo que atiça a curiosidade do nobre sentido da audição. Bastam apenas algumas notas para que se estabeleça a conexão mais precisa; ouvidos, coração e imaginação. Música não é apenas entretenimento, tampouco um simples produto. É arte. É a expressão do sentimento através de instrumentos. Acordes, harmonias e ritmos não são meramente sons ou combinações entre si. É simplesmente outra língua. Música é aquilo o que atinge não apenas a superfície; os seus ouvidos. Música é o que ressoa em nosso interior. É o que mexe com todo o restante. Ela está além de você. Ela transcende. Ao menos, esta é a minha concepção do que é música.
E aproveitando o momento, nada mais oportuno do que citar algo que meus ouvidos, automaticamente, não podem deixar de captar. Trata-se de um dos maiores eventos de música do mundo. E, apesar da obviedade, se você ainda desconfia; me refiro ao Rock In Rio 2011. Certamente, mesmo quem torce o nariz ao ouvir a palavra “Rock”, sabe do que se trata. Isto nos dá uma idéia da dimensão do evento. Mesmo os que não eram nascidos, ou eram muito pequenos na época, muito provavelmente, já ouviram muitas histórias em torno deste grande evento. Apresentações memoráveis e fatos curiosos. Sendo que, eu mesmo, me incluo neste grupo. No Rock In Rio de 1985 ainda não era nascido. No entanto, alguns meses depois, cheguei a este mundo de mala e cuia. O que eu, e nem a minha família sabíamos, é que me converteria em um amante incondicional do Rock. E isto começou por volta dos 10 anos. E o mais curioso de tudo é que na minha genealogia não havia a “quem puxar” neste aspecto. Sendo assim, vocês podem imaginar a incompreensão e o certo preconceito a que estava fadado nos anos vindouros. Mas então, veio a adolescência. E junto com ela, começou a nascer a paixão pelo meu estilo de Rock preferido até hoje; o Heavy Metal. Desnecessário citar Iron Maiden e Metallica no meu currículo de “headbanger”.
Mas, ao longo desta trajetória como rockeiro comecei a notar que as pessoas nutriam muitos preconceitos em relação a quem se dizia fã deste gênero musical. Uma perseguição constante, quase como uma nova inquisição. Afinal de contas, quem já não ouviu as célebres frases: “isto é só barulho”, “isto é coisa de louco” ou “isto é música do diabo”. E então, se identificaram? Se você, assim como eu, curte Rock´n Roll; aposto que sim. É uma luta árdua, pois por mais que você tente provar que não é nada disto, e que tudo isto não tem o menor fundamento; não adianta. Talvez, apenas sendo rockeiro você compreenda. Pelo menos, é bom saber que não estamos sozinhos neste sentido. Optar pelo Rock não é, e nunca foi uma escolha de vida das mais fáceis. Mas se há algo que me parece contraditório é colocar músicos como Rihanna, Katy Perry, Ivete Sangalo, entre tantos outros, para uma exibição em um evento chamado ROCK IN RIO. Considerando-se o fato de que, em teoria, seria um evento voltado para aqueles que apreciam o Rock, chega a ser uma falta de respeito. Não digo isto apenas pelo público, o qual sabe exatamente o que espera ouvir, mas também aos que se apresentam e não tem nada a ver com o contexto. Exposição desnecessária e que já gerou muitos contratempos e episódios dignos de serem esquecidos. É claro que o respeito é algo primordial e questão de educação. Mas o Rock, ritmo que já não tem tanto espaço na grande mídia, é cada vez mais deixado para segundo plano.
Diante disto, me pergunto: Qual o objetivo de fazer um evento de Rock, destinado ao público que gosta de Rock, e estar repleto de apresentações de música Pop? Sugiro que modifiquem o nome do evento, talvez para Pop In Rio. Parece mais adequado. Imagino como seria estranho se reeditassem outro evento célebre do gênero; o lendário Woodstock. Já imaginaram um Woodstock com Jay-Z, Snoop Dog e 50 Cent? Surreal não? Pois é... Mas longe de ser um Xiita musical, o que defendo não é o purismo ou superioridade do Rock; antes disso, a coerência. E para finalizar, deixo um vídeo do Youtube, chamado “A Headbanger´s Journey”. Trata-se de um documentário com uma visão Antropológica a respeito do Heavy Metal. Quem estiver disposto assista, pois vai aprender muito e, quem sabe, entender o que é o Metal.  

http://www.youtube.com/watch?v=5WMmz9-OlVA&feature=related

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Sobre guerras, revoluções e contradições

Estamos em setembro. O calendário já parece curto. O tempo voa ao ritmo do bom e velho Minuano. Esta entidade da natureza tipicamente gaudéria. É o mês da pátria. Mês da independência. E claro, da semana Farroupilha. O dia 20 de setembro está próximo, mais uma vez. Para celebrarmos esta data histórica tão importante na vida de nós gaúchos. Tempo de alçar bandeiras, de estufar o peito e bradar aos quatro cantos do mundo o orgulho de ser brasileiro e gaúcho! Mas cuidado. Não nos esqueçamos disto nos outros 364 dias restantes. Nunca é demais lembrar, afinal de contas, há os vícios de memória... O fato é que não vivemos apenas de glórias. Esses dias ecoam através dos tempos. Perpetuam-se por si só. Mas sem os dias restantes, em que se seguem o cultivo das sementes, não chegamos aos frutos. Toda a coroação também tem o seu preço. Todo fruto tem o seu sabor; amargo, azedo, doce, agridoce. E muito depende do terreno onde se planta.
Uma vez mexendo no terreno fértil da memória, não poderia deixar de mencionar o fatídico 11 de setembro. Data esta que já está inscrita em nossa geografia psíquica. Pois neste último domingo, completaram-se 10 anos do ataque terrorista ao imponente World Trade Center nos EUA, o qual culminou na queda das Torres Gêmeas e, consequentemente, na perda de centenas de vidas. Para alguns, uma surpresa ; catástrofe inominável. Para outros, um amargo desfecho de uma sucessão de fatos. Mas questões e opiniões políticas à parte, nada justifica tamanha brutalidade. E isso tudo em nome de que? Poder? Política? Religião? Uma luta sangrenta e sem sentido por um único Deus. A procura pela redenção se transfigura na origem do mal. E assim segue o pêndulo da vida, oscilando entre a dor e a revolta, entre o orgulho e a glória. As guerras, as revoluções, atentados terroristas, amparados sob os mais variados motivos. Pretextos convincentes. Mérito daqueles que os vendem como produtos naturais de conflitos de interesses exclusos. Vivemos em tempos de revolução. As capas de revistas e jornais são uma vitrine de assuntos bombásticos; com o perdão da redundância. Mais recentemente, tivemos movimentos libertários nas nações muçulmanas, começando pela Tunísia. Depois, estendendo-se a  locais como Egito e Líbia. As batalhas nunca cessam. Garantia de assunto para os livros de história.
Mas há outras revoluções mais silenciosas e, talvez por isto, nem tão lembradas; ou será que não seriam tão importantes? São aquelas revoluções que não mobilizam grandes massas; onde não há tiros e nem sague; a liberdade não está ameaçada. Porém, nos ferem de outras formas, e sem percebermos de imediato. Afinal de contas, quantas passeatas, quantos protestos não vemos no dia-a-dia ao andar pela cidade? Centrais sindicais, movimentos pelos direitos da mulheres, contra a corrupção na política, pela liberdade de expressão dos homossexuais, ONGs, enfim; uma gama de batalhas. Todas revoluções municiadas apenas de palavras e de uma boa dose de idealismo. E nem por isto, são menos eficazes e menos importantes do que as outras. Talvez, se fôssemos mais capazes de resolvermos estas questões do cotidiano, pudéssemos evitar repercussões maiores e mais danosas. E falando em termos de Brasil, uma das grandes revoluções que nos deparamos é a da educação. Talvez, uma das necessidades mais básicas enquanto sociedade. Enquanto um país que almeja uma condição de respeito entre as demais nações.
Esta semana foi divulgada uma lista de desempenho das escolas no último ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio), o qual tem fornecido vagas em cursos superiores de várias universidades do país. No resultado, uma notícia surpreendente; mas muito positiva: Entre as dez melhores escolas, duas delas são do estado do Piauí. Ora, justamente um estado que localiza-se em uma região historicamente despossuída de maiores recursos e investimentos por parte da união. Um excelente exemplo de dedicação, entrega e superação. Uma guerra quase que ideal, onde há apenas vitoriosos. Mas feita de guerreiros vivendo no anonimato. Heróis de nomes simples em meio à multidão. Cidadãos comuns, como eu e você. 

domingo, 4 de setembro de 2011

A epidemia silenciosa


Sempre fui daquelas pessoas que acham alguns clichês até interessantes, pelo fato de que eles nunca saem de moda. Estão sempre na vitrine. É como aquele sapato velho, mas que ainda é confortável; ou como aquela roupa que é herdada através das gerações. Mas o que há em comum entre eles? São antigos, ultrapassados, mas ainda possuem um valor inegável; são úteis de alguma forma. E só para ilustrar, aqui vai um dos meus clichês favoritos, que diz assim: “Há males que vem para o bem”. E este eu uso com bastante frequência, para o deleite do meu lado convencional. Mas há outro que acho que casa perfeitamente bem com este, e que diz assim: “O pior cego é aquele que não quer ver”. Porém, assuntos arqueológicos à parte, o meu intento também não é montar uma linha do tempo de ditos populares.
Antes disso, o norte da minha bússola aponta para um perigo silencioso. Uma epidemia que se dissemina de forma muito sutil. E dizem os rumores que uma das principais sequelas pode ser a falta de crítica. Mas e qual o nome deste vilão? É o vírus da falta de consciência. Altamente contagioso e se manifestando de diversas maneiras, estando em constante mutação. Por ironia do destino, um dos focos de maior incidência é o setor da saúde. E com um alto poder de alcance, abarca desde as esferas municipais até a federal. Assim como em todas as patologias apresenta alguns sintomas característicos, entre os quais destacamos a burocratização, a institucionalização, a falta de assistência, e o mais grave de todos; o descaso. O ponto positivo é que o prognóstico pode vir a ser favorável, caso algumas medidas sejam adotadas. Podemos destacar: uma jornada de trabalho compatível com as atribuições e vencimentos, além de mais investimentos em infraestrutura e treinamento. Como prevenção sugere-se a prática da humanidade, de forma irrestrita. Respeito, consideração e boa vontade. A matéria prima para a fabricação do antídoto. Mas diante do meu estado levemente febril, depois do contato com este vírus, é que percebi que este desconforto me fez enxergar a dimensão do problema. O pior de tudo é que ainda há gente que acha que tem imunidade suficiente para tudo, ou seja, que não tem absolutamente nada a ver com isto. O laboratório que fabrica a vacina chama-se SUS, o qual tem como principais fármacos patenteados a humanização, a integralidade, a igualdade e a universalidade. São velhos conhecidos tanto dos senhores feudais quanto dos vassalos do reino da saúde. E hoje, quem sabe, até uma terra de ninguém.
Mas e o que isto tem a ver com sapatos e roupas velhas? Em ambos os casos há recursos que podem ou não ser aproveitados. Tudo depende da forma como vemos a situação. Depende da disposição em aprender ou não com os erros, ou simplesmente continuar agindo da mesma forma e esperando resultados diferentes. Eis então que retornamos às parábolas acima. Mas e se você estiver se perguntando: “Mas e o vírus, o que fazer para dissipá-lo?” A resposta é simples: Faça a sua parte. Não tente ignorar uma vez infectado. Não seja como o pior tipo de cego. Grite, esbraveje, proteste. 

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Amores, ex-amores e desamores


O ponto de partida para a reflexão que gostaria de compartilhar é o último episódio da novela exibida pela Rede Globo chamada “Insensato Coração”. Confesso que nunca fui um grande apreciador de novelas, tampouco da emissora, embora, acredite que trabalhados bem feitos devam ser reconhecidos, independente do meio em questão. Recentemente, tivemos retratados personagens interessantes, e bem interpretados, como esquizofrênicos e sociopatas. Porém, como se pode deduzir, não acompanhei os capítulos desta última novela regularmente. No entanto, no último sábado, acabei assistindo a algumas cenas do desfecho da história enquanto saboreava um excelente rodízio de pizzas. Mas, detalhes a parte, o tema em que quero me deter é o título da novela. “Insensato Coração”.  Isto porque, assim como a mim, é um título que dá margem a qualquer um pensar muitas coisas. Talvez, em pessoas que conhecemos, desconhecidos que seja, outros filmes, novelas ou seriados. Coração. Amores, paixões, loucura. Insensatez. Parece tudo parte de um grande pacote. Que todos conhecemos, seja ele aberto por nós ou endereçado a terceiros. Como a Caixa de Pandora, recheada de perigos e contradições, dos quais todos carregamos algum pertence. 
Quem dera se tivéssemos a medida do amor.  Se pudéssemos o compreender, ou ao menos chegar perto disto, como tantos filósofos, cientistas e literatos ousaram fazer. Um tema que de fato nunca se esgota. E o mais incrível nisto tudo? Parece que quanto mais falamos e aprendemos, descobrimos que ainda há muito mais para aprender. Talvez, nem seja preciso saber. O importante mesmo é sentir. E cada um sente ao seu modo. Tão singular em sua pluralidade. O amor é o caminho por si só, ou o Tao, se preferirem, como dizem os Taoístas. Sendo assim, a mais difícil das lições. O mais duro aprendizado. O amor possui várias faces sem ao menos ter traços definidos. Surpreendente e imprevisível.  Quase mágico. Há amores que são exigentes, que oferecem, mas que cobram; os descompromissados, que recebem aos poucos e de forma inconstante; e os egoístas, que apenas recebem e nada doam. Fantasias diferentes para cenários diferentes, somos todos protagonistas deste ato.  Que se desenrola no cotidiano, por trás dos holofotes.  Amantes anônimos. Do dinheiro e do poder ao amor de pai e mãe; do amor romântico ao amor pelo clube de futebol, de um partido ou causa à religião. A novela da vida, definitivamente, não parece ou faz de conta. Nela as coisas são como são. O ibope é sempre garantido. Mas se são boas ou más? Depende. O que você quer encontrar? Afinal de contas, os olhos só enxergam aquilo o que podemos ver.
O que podemos dizer é que existem tantos enredos quantos forem os personagens. Não existem heróis ou vilões, apenas pessoas comuns. Por vezes, em lados opostos. Vemos amores ora profundos ora superficiais; sinceros ou dissimulados. No entanto, o clichê de todas estas histórias são as idas e vindas. Transitando por amores plenos à ex-amores, e até desamores.  É claro que nesta receita não poderiam faltar alguns condimentos e temperos típicos, para compor um dos pratos mais conhecidos por nós: A ambivalência. Pois onde há amor dizem que também pode haver ódio, desconfiança, ciúme, insegurança. Equilíbrio frágil. A boa e velha nova; sempre nos surpreende. Basta abrir as páginas dos jornais, onde vemos crimes passionais; atentados terroristas; assassinatos em massa ou contra colegiais; o lado oposto de uma mesma moeda. Onde há também espaço para a vida, como o nascimento de um filho; início de um namoro ou casamento; o começo de uma grande amizade. Difícil entender tamanha disparidade. Mas muito fácil cair nas armadilhas que nos levam a dor. Do amor viemos; com ele convivemos. Mas se crescemos ou se nos perdemos, depende do que aprendemos. O bom é que sempre há escolha. 

sábado, 13 de agosto de 2011

Passagens, travessias e conexões

Como escrevi em um texto anterior, a vida implica movimento. Estamos em um processo de transformação constante. No entanto, isto também não quer dizer que não possamos ou não devemos voltar atrás. Pelo contrário, resgatar experiências do passado tem o seu valor. Afinal de contas, as coisas que vivemos ontem fazem parte do que somos hoje, tanto como o dia de hoje e o que pensamos para amanhã. Alguma novidade? Nenhuma. Todos nós sabemos disto, consciente ou intuitivamente. Mas nos esquecemos automaticamente na mesma medida em que sabemos. Passado, presente e futuro. Tempos distintos, mas tão próximos. E no meio disto tudo, as memórias; do que foi, e do que ainda nem veio. A trinca que tece o fio da vida.
Mas ao falar disto tudo, não podemos nos esquecer de outros acessórios, e nem por isto, menos importantes. Saudade. Palavra curta, mas de muito significado. E como dizem, sem tradução exata para outras línguas. Um tesouro que é só nosso. Algo que não é concreto, palpável, mas é como se fosse. Pertence a cada um de nós. Bem comum. A saudade é como o passageiro clandestino de carona pelas viagens da memória. Mas nem sempre as paisagens são as mais belas. Questões estéticas a parte, o que importa é o que se traz delas. Aquele que foi, e aquele que voltou da viagem. Pois, ao longo deste caminho precisamos pagar alguns pedágios.
 Inevitável deixar algo para trás para poder seguir. Leve na sua bagagem só aquilo o que for essencial. Diminua o peso daquilo o que carrega com você. E se algo de importante ficou para trás, não se preocupe. A vida está cheia de “achados e perdidos”.  Afinal de contas, as suas esquinas são tantas. Muito simples se perder. Alguns perdem e se perdem em amores, não sabem a quem e como amam; outros mudam de trabalho ou de carreira, uma identidade nova; e outros tantos fingem que mudam, assim como trocam de roupa. Acidentes, encontros, acasos, despedidas. Fluxo incessante. E assim segue o tráfego pelas nuances da vida. Repleto de passagens, travessias e conexões. 

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Da ignorância à vaidade

Depois de uma semana afastado do blog, retorno. Confesso que estava pensando a respeito de um e-mail que recebi, através de pessoas diferentes, em um curto intervalo de tempo. E creio que se recebi isto de mais de uma pessoa, possivelmente, foi algo que causou impacto entre aqueles que leram o mesmo conteúdo. Em mim, da mesma maneira, não foi diferente. Mas para quebrar o suspense vou esclarecer do que se trata. O que me deixou perplexo foram algumas constatações de um psicólogo em sua tese de mestrado pela USP.  O objetivo de sua pesquisa era comprovar a existência da invisibilidade pública. Isto mesmo. Quer dizer que podemos ser, de fato, invisíveis uns para os outros. E infelizmente, trata-se de algo que faz parte do nosso cotidiano. Este profissional passou-se por gari, a fim de compreender, através da experiência direta, como era estar na pele destes trabalhadores. A sua rotina era dividida entre os estudos do mestrado e o trabalho como gari. Para a sua surpresa, ou seria melhor dizer, decepção, ele deparou-se com uma cruel realidade. O fato de que estes trabalhadores eram vistos e tratados como meros objetos. Inclusive aqueles indivíduos do próprio convívio acadêmico do psicólogo, simplesmente, não o reconheciam quando este estava trajado como gari. Ele sentia-se completamente ignorado, como se fosse invisível aos olhos dos demais, sem receber simples cumprimentos, gratidão ou reconhecimento pelo seu trabalho.  Por sinal, exatamente o que se passava com, os agora colegas garis, diariamente. Uma experiência de vida transformadora.
E até como um complemento à tese do colega, ainda arrisco dizer que existem diferentes tipos e níveis de invisibilidade. Podemos ser ignorados pela pessoa amada, pelo chefe no trabalho, pela própria família, pela comunidade, por grupos étnicos diferentes, e mesmo por outras nações, enquanto país. O fato é que aquele mesmo que ignora a algo ou a alguém não apenas demonstra o seu desconhecimento, como também certo descaso, desprezo.  O que me intriga é que se recorrermos ao dicionário, um dos significados de ignorar é desconhecer-se a si próprio. Falando em termos de psiquê, em boa parte das vezes é mais fácil rejeitar algo do que tentar entender, ainda mais se isto for algo que afete o nosso narcisismo. Talvez, para alguns, isto não seja uma grande novidade. Mas o que ficou comprovado neste estudo é que a ocupação e a posição social são capazes de determinar a forma como você será tratado. Entre outras palavras, não importa muito quem você é, mas o que você faz, e se isto é reconhecido socialmente. Neste sentido, há um abismo entre você ser um médico ou um simples faxineiro. Ser tudo ou não ser nada. Inquietante. Desconfortável. O pior de tudo é que isto existe, e está por toda a parte. E por incrível que pareça, pode ser que você ainda não tenha percebido o poder de um simples gesto, como dar um bom-dia a alguém, agradecer por um serviço prestado, um sorriso ou aperto de mãos.
 Esta foi a conclusão a que cheguei depois de resgatar minhas memórias sobre meus últimos dias, questionando a minha própria conduta. E sabem o que parece mais absurdo? O quanto nós agimos de forma automática; sim, como robôs, máquinas. O afeto, a consideração e a empatia parecem artigos de luxo em tempos de tanta vaidade. E se parássemos de nos preocupar tanto com a nossa, e começássemos a exercitar a humildade? Dar-se conta do que ou quem ignoramos pode não ser fácil à primeira tentativa, mas uma vez compreendido, mudar isto pode ser bem mais simples do que você imagina. Basta atitude. Então, pare por algum tempo. Contemple a si mesmo, e as respostas virão. Para finalizar, deixo esta citação:
“A doença do ignorante é ignorar a sua própria ignorância.”
(Amos Bronson Alcott)

terça-feira, 26 de julho de 2011

A violência do cotidiano

Como não poderia deixar de ser, o assunto do momento é a morte da cantora britânica Amy Winehouse, amplamente divulgada e noticiada pelos meios de comunicação ao redor do mundo. A causa da sua morte, no entanto, não foi confirmada. Mas para quem acompanhava a trajetória de Amy, sua morte precoce não parece surpreender, tendo em vista o seu estilo de vida e o envolvimento com as drogas.  Por conta disto, parece natural a curiosidade e as especulações da imprensa, principalmente os tablóides sensacionalistas ingleses. Só não é plenamente natural pelo fato de que extrapolam, ao expor sua intimidade de forma invasiva e sem limites, retratando em detalhes a degradação moral e física enfrentadas por ela. Um desrespeito à privacidade e dignidade humanas.
No entanto, não é este o tema em que gostaria de me deter, embora haja alguma semelhança entre ambos. O assunto que quero abordar é algo que, como apreciador do esporte e amante incondicional do futebol, me deixou profundamente triste e indignado. Trata-se da briga envolvendo os jogadores das equipes de categoria de base do Vasco da Gama e do Sport Recife pela Copa BH de futebol. O lance mais absurdo, e dotado de uma covardia sem precedentes, é o instante em que o goleiro do Sport corre em direção a um atleta do Vasco, que estava de costas, e acerta-lhe uma voadora na região do pescoço. As imagens são incríveis. Não sei o que acontecerá ao garoto agredido, mas espero que tenha a sorte de não ficar paraplégico. Quanto ao agressor, espero que os dirigentes do clube, os tribunais desportivos e, claro, a polícia, cumpram o seu dever e sejam rigorosos. Atitudes deste tipo não podem passar impunes. Mas o ponto de discussão onde quero chegar é a violência. Para ser mais exato, a banalização da violência. Este episódio que relatei não é apenas um fato isolado. Faz parte de algo recorrente, dentro e fora dos gramados, e que afeta a vida de todos nós, direta ou indiretamente. Está inserido em um contexto social.
A violência se manifesta e se prolifera de formas distintas, mas sempre gerando todo o tipo de dano. Pode ser tanto velada, como acontece muitas vezes no fenômeno do Bullying, quanto de forma explícita como o tráfico de drogas, assaltos e sequestros seguidos de morte. A impressão que fica, cada vez mais, é de que nos acostumamos a conviver com a violência. Aprendemos a tolerar algo que é inaceitável; o desrespeito e o descaso para com a vida, a sua e a do próximo. Acompanhando os noticiários na tv, jornais e revistas vemos diversos exemplos de comportamentos anti-sociais, baseados em indiferença e frieza em relação ao sentimentos alheios, desrespeito à regras e normas, violação de direitos, corrupção, abuso de poder, entre tantos. Se pensarmos isto dentro de uma lógica perversa, que privilegia a competição, o status, o poder, a ganância, em detrimento de valores como a compaixão, solidariedade e humildade, parece fazer sentido. Contudo, é justamente aí que está o perigo.
A medida que figuras de autoridade ou que tenham alguma relevância social obtêm vantagens ou são recompensados por determinado tipo de conduta, isto os transforma em potenciais modelos, ligados à imagem de sucesso e competência na realização de suas metas. Exemplo prático? Fernando Collor. Lembram-se? Pois é. Era tido como um exemplo de cidadão, e fez tudo o que fez ao país. Hoje, está novamente atuando na política. Mas por quê? Impunidade. E este jogador que agrediu covardemente a um companheiro, por quê será que o fez? Talvez, por descontrole emocional, uma personalidade psicopática, ou uma expectativa de passar impune? E as crianças que passam por cima da autoridade de pais e professores, e exibem comportamentos agressivos como forma de conseguirem o que querem? E as agressões aos homossexuais? Onde estão os limites? Intolerância. Mais do que nunca fica a necessidade de reflexão a respeito do que temos como valores, como objetivos de vida, a forma como lidamos com as outras pessoas e as diferenças. Mas isto só se faz com muito diálogo, na base da compreensão e da aceitação, sem esquecer-se de exaltar e reforçar bons comportamentos. Valorizar os bons modelos. Isto tudo, sem abrir mão de punir quando necessário, mas de forma proporcional aos danos. Esta é a punição consciente, e que permite ao sujeito a recuperação. Precisamos prestar atenção às nossas crianças e jovens. Educar enquanto é tempo.

sábado, 23 de julho de 2011

A força que há na fraqueza

Como um apreciador da filosofia oriental, mais especificamente, me remetendo ao Taoísmo, gostaria de compartilhar um trecho de um livro que estou lendo, que diz assim:
“Lembre-se que a energia do Chi flui entre força e fraqueza e nunca permanece sendo uma coisa ou outra – como se fosse um rio entre as duas margens fluindo sobre seixos e à beira das árvores, em fluxo constante. Isto reflete a vida, pois somos fracos e vulneráveis, sofremos de verdade e, mais cedo ou mais tarde morreremos. A verdade está nos fatos. Esconder a verdade querendo ser sempre forte e invencível é apenas um modo de enfatizar o oposto da força e da invencibilidade. Aprenda quem você é e fique contente com isso. Todo o resto é consequência.” (Dunn, 2003)
Este fragmento fala a respeito de estados opostos, a saber; poder e vulnerabilidade, ou ainda, força e fraqueza. Dois estados distintos, porém, complementares, e que estão constantemente presentes na vida de qualquer pessoa. Ademais, creio que isto exemplifica bem a idéia de que a vida é uma sucessão; de fatos, experiências, aprendizados; ou seja, um contínuo. A vida em si implica movimento. Julgar se foi retrógrado, ou se houve progresso, depende da nossa consciência sobre aquilo o que acontece. O problema é que, de modo geral, passamos boa parte de nossas vidas sem percebermos o quanto podemos ser fortes. Como se nosso potencial permanecesse estancado. Em realidade, nós desejamos a todo o instante demonstrar isto, nos colocando e aos outros sob prova. Mas não percebemos que ao enfatizar apenas a força, o poder, estamos desprezando as nossas fraquezas e vulnerabilidades que, por sinal, fazem parte da essência de cada um. Dessa maneira, estamos negando veementemente algo que faz parte de nós, e quanto mais o negamos, mais sofremos. É um circulo vicioso. Isto é realmente crescimento? Talvez, pudéssemos dizer que é uma tentativa. Contudo, de forma ilusória, pautada pelo auto-engano.
Mas como ser frágil, demonstrar e admitir fraqueza, em um mundo que valoriza somente conquistas, ganhos, poder, influência, e tem verdadeiro repúdio a uma condição humana tão fundamental? O fato é que uma das grandes virtudes se perde no meio desta fumaça. Nossa visão, muitas vezes, turva, não nos permite perceber que é necessário muita coragem para assumir e lidar com as suas fraquezas. É justamente quando você assume a responsabilidade por si mesmo, exercitando a auto-aceitação, que lhe será possível mudar. Você precisa ousar conhecer-se. Confrontar a si, e não aos outros. A partir daí, poderá descobrir a imensa força de que dispõe. Entre outras palavras, o verdadeiro poder é dominar a si mesmo. É do conhecimento da fraqueza que emerge a força. Neste sentido, podemos aproximar o Taoísmo da Psicoterapia, pois ambos visam o auto-conhecimento, a auto-aceitação e a conquista do poder pessoal, que é o que nos possibilita a mudança real.   

 Fonte: (A Arte da Paz, equilíbrio e conflito em A Arte da Guerra de Sun-tzu. Traduzido do chinês e adaptado por Philip Dunn, Editora Planeta do Brasil, 2003).

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Começos, Dúvidas e Medos


Bom, este é o meu primeiro post. Nunca tive um Blog antes, embora já houvesse cogitado a possibilidade uma centena de vezes. Aliás, isto é algo que julgo muito complicado. Não apenas eu, mas muitas pessoas me dizem: "ah, queria tanto fazer tal coisa! Mas o difícil mesmo é começar...". De fato, concordo em todos os aspectos. No entanto, muitas vezes, boas idéias e iniciativas acabam se perdendo no meio do caminho. Mas porque será? Dúvida? Medo? Ou ambos? Talvez, o mais sensato seja considerar uma combinação entre dúvida e medo; do inesperado, do imprevisível. Acredito que o Ser Humano é um curioso por natureza, e penso que não fujo à regra. Contudo, às vezes, penso que o tamanho da nossa curiosidade é diretamente proporcional aos medos que temos da vida. Medo do fracasso, medo do ridículo, medo da rejeição. Mas não só pelo lado negativo das coisas. Muitas vezes, também temos medo das conquistas. Afinal de contas, também não sabemos até onde elas podem nos levar, uma vez que chegarmos até lá. O fato concreto é que estamos a todo instante nos deparando com o inesperado e com a dúvida. Isto é uma regra; e dela, não há como escapar. Agora, a parte boa nisto tudo, é que também temos o poder de escolha. Sendo assim, também temos infinitas possibilidades. Não seja um escravo dos seus medos, tampouco deixe que eles se transformem em angústias. Haja. Faça. Construa. Afinal, o que de pior pode acontecer? Ou ainda, o que pode deixar de acontecer? Na verdade, tudo depende da forma como você interpreta a sua realidade.

Frederico S. da Costa.