terça-feira, 26 de julho de 2011

A violência do cotidiano

Como não poderia deixar de ser, o assunto do momento é a morte da cantora britânica Amy Winehouse, amplamente divulgada e noticiada pelos meios de comunicação ao redor do mundo. A causa da sua morte, no entanto, não foi confirmada. Mas para quem acompanhava a trajetória de Amy, sua morte precoce não parece surpreender, tendo em vista o seu estilo de vida e o envolvimento com as drogas.  Por conta disto, parece natural a curiosidade e as especulações da imprensa, principalmente os tablóides sensacionalistas ingleses. Só não é plenamente natural pelo fato de que extrapolam, ao expor sua intimidade de forma invasiva e sem limites, retratando em detalhes a degradação moral e física enfrentadas por ela. Um desrespeito à privacidade e dignidade humanas.
No entanto, não é este o tema em que gostaria de me deter, embora haja alguma semelhança entre ambos. O assunto que quero abordar é algo que, como apreciador do esporte e amante incondicional do futebol, me deixou profundamente triste e indignado. Trata-se da briga envolvendo os jogadores das equipes de categoria de base do Vasco da Gama e do Sport Recife pela Copa BH de futebol. O lance mais absurdo, e dotado de uma covardia sem precedentes, é o instante em que o goleiro do Sport corre em direção a um atleta do Vasco, que estava de costas, e acerta-lhe uma voadora na região do pescoço. As imagens são incríveis. Não sei o que acontecerá ao garoto agredido, mas espero que tenha a sorte de não ficar paraplégico. Quanto ao agressor, espero que os dirigentes do clube, os tribunais desportivos e, claro, a polícia, cumpram o seu dever e sejam rigorosos. Atitudes deste tipo não podem passar impunes. Mas o ponto de discussão onde quero chegar é a violência. Para ser mais exato, a banalização da violência. Este episódio que relatei não é apenas um fato isolado. Faz parte de algo recorrente, dentro e fora dos gramados, e que afeta a vida de todos nós, direta ou indiretamente. Está inserido em um contexto social.
A violência se manifesta e se prolifera de formas distintas, mas sempre gerando todo o tipo de dano. Pode ser tanto velada, como acontece muitas vezes no fenômeno do Bullying, quanto de forma explícita como o tráfico de drogas, assaltos e sequestros seguidos de morte. A impressão que fica, cada vez mais, é de que nos acostumamos a conviver com a violência. Aprendemos a tolerar algo que é inaceitável; o desrespeito e o descaso para com a vida, a sua e a do próximo. Acompanhando os noticiários na tv, jornais e revistas vemos diversos exemplos de comportamentos anti-sociais, baseados em indiferença e frieza em relação ao sentimentos alheios, desrespeito à regras e normas, violação de direitos, corrupção, abuso de poder, entre tantos. Se pensarmos isto dentro de uma lógica perversa, que privilegia a competição, o status, o poder, a ganância, em detrimento de valores como a compaixão, solidariedade e humildade, parece fazer sentido. Contudo, é justamente aí que está o perigo.
A medida que figuras de autoridade ou que tenham alguma relevância social obtêm vantagens ou são recompensados por determinado tipo de conduta, isto os transforma em potenciais modelos, ligados à imagem de sucesso e competência na realização de suas metas. Exemplo prático? Fernando Collor. Lembram-se? Pois é. Era tido como um exemplo de cidadão, e fez tudo o que fez ao país. Hoje, está novamente atuando na política. Mas por quê? Impunidade. E este jogador que agrediu covardemente a um companheiro, por quê será que o fez? Talvez, por descontrole emocional, uma personalidade psicopática, ou uma expectativa de passar impune? E as crianças que passam por cima da autoridade de pais e professores, e exibem comportamentos agressivos como forma de conseguirem o que querem? E as agressões aos homossexuais? Onde estão os limites? Intolerância. Mais do que nunca fica a necessidade de reflexão a respeito do que temos como valores, como objetivos de vida, a forma como lidamos com as outras pessoas e as diferenças. Mas isto só se faz com muito diálogo, na base da compreensão e da aceitação, sem esquecer-se de exaltar e reforçar bons comportamentos. Valorizar os bons modelos. Isto tudo, sem abrir mão de punir quando necessário, mas de forma proporcional aos danos. Esta é a punição consciente, e que permite ao sujeito a recuperação. Precisamos prestar atenção às nossas crianças e jovens. Educar enquanto é tempo.

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