terça-feira, 2 de agosto de 2011

Da ignorância à vaidade

Depois de uma semana afastado do blog, retorno. Confesso que estava pensando a respeito de um e-mail que recebi, através de pessoas diferentes, em um curto intervalo de tempo. E creio que se recebi isto de mais de uma pessoa, possivelmente, foi algo que causou impacto entre aqueles que leram o mesmo conteúdo. Em mim, da mesma maneira, não foi diferente. Mas para quebrar o suspense vou esclarecer do que se trata. O que me deixou perplexo foram algumas constatações de um psicólogo em sua tese de mestrado pela USP.  O objetivo de sua pesquisa era comprovar a existência da invisibilidade pública. Isto mesmo. Quer dizer que podemos ser, de fato, invisíveis uns para os outros. E infelizmente, trata-se de algo que faz parte do nosso cotidiano. Este profissional passou-se por gari, a fim de compreender, através da experiência direta, como era estar na pele destes trabalhadores. A sua rotina era dividida entre os estudos do mestrado e o trabalho como gari. Para a sua surpresa, ou seria melhor dizer, decepção, ele deparou-se com uma cruel realidade. O fato de que estes trabalhadores eram vistos e tratados como meros objetos. Inclusive aqueles indivíduos do próprio convívio acadêmico do psicólogo, simplesmente, não o reconheciam quando este estava trajado como gari. Ele sentia-se completamente ignorado, como se fosse invisível aos olhos dos demais, sem receber simples cumprimentos, gratidão ou reconhecimento pelo seu trabalho.  Por sinal, exatamente o que se passava com, os agora colegas garis, diariamente. Uma experiência de vida transformadora.
E até como um complemento à tese do colega, ainda arrisco dizer que existem diferentes tipos e níveis de invisibilidade. Podemos ser ignorados pela pessoa amada, pelo chefe no trabalho, pela própria família, pela comunidade, por grupos étnicos diferentes, e mesmo por outras nações, enquanto país. O fato é que aquele mesmo que ignora a algo ou a alguém não apenas demonstra o seu desconhecimento, como também certo descaso, desprezo.  O que me intriga é que se recorrermos ao dicionário, um dos significados de ignorar é desconhecer-se a si próprio. Falando em termos de psiquê, em boa parte das vezes é mais fácil rejeitar algo do que tentar entender, ainda mais se isto for algo que afete o nosso narcisismo. Talvez, para alguns, isto não seja uma grande novidade. Mas o que ficou comprovado neste estudo é que a ocupação e a posição social são capazes de determinar a forma como você será tratado. Entre outras palavras, não importa muito quem você é, mas o que você faz, e se isto é reconhecido socialmente. Neste sentido, há um abismo entre você ser um médico ou um simples faxineiro. Ser tudo ou não ser nada. Inquietante. Desconfortável. O pior de tudo é que isto existe, e está por toda a parte. E por incrível que pareça, pode ser que você ainda não tenha percebido o poder de um simples gesto, como dar um bom-dia a alguém, agradecer por um serviço prestado, um sorriso ou aperto de mãos.
 Esta foi a conclusão a que cheguei depois de resgatar minhas memórias sobre meus últimos dias, questionando a minha própria conduta. E sabem o que parece mais absurdo? O quanto nós agimos de forma automática; sim, como robôs, máquinas. O afeto, a consideração e a empatia parecem artigos de luxo em tempos de tanta vaidade. E se parássemos de nos preocupar tanto com a nossa, e começássemos a exercitar a humildade? Dar-se conta do que ou quem ignoramos pode não ser fácil à primeira tentativa, mas uma vez compreendido, mudar isto pode ser bem mais simples do que você imagina. Basta atitude. Então, pare por algum tempo. Contemple a si mesmo, e as respostas virão. Para finalizar, deixo esta citação:
“A doença do ignorante é ignorar a sua própria ignorância.”
(Amos Bronson Alcott)

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